Tuesday, April 20, 2010

Relato de Parto

Levei quase 6 meses pra escrever este relato de parto. A correria de ter um bebê em casa deixa qualquer um de cabelos em pé! rsrs
Mas nasceu. Finalmente o relato de parto nasceu. Ficou longo, pois não consegui abstrair nenhum detalhe, nenhum sentimento, nenhuma emoção.
Vamos, então, ao tão esperado desfecho, após os 9 meses intensos e maravilhosos que foram a minha gestação!


Relato de Parto da Maria Eduarda

Como Tudo Começou

Eu sempre quis ser mãe, e sempre planejei pra que acontecesse na hora certa e com a pessoa certa. Depois de 1 ano casada com o Gustavo, eu com 31 anos, carreira bem encaminhada, casamento indo de vento em popa, já estava prontíssima pra ter um filho e o Gu tb já queria muito. Parei de tomar a pílula em novembro, e 4 meses depois, lá veio o nosso tão sonhado positivo! Que alegria, que emoção, quanto amor!! A melhor notícia de toda a nossa vida!

A Gravidez

Minha gravidez foi muito tranqüila, não tive nenhum problema mais sério do que gripe (e um susto, quando achamos que eu podia estar com apendicite – mas não era nada...), mas confesso que achei bem desgastante (fisicamente). Eu não conseguia fazer caminhada, tinha dores na lombar, nos quadris, desde muito cedo. E com o passar do tempo e a barriga pesando, tudo foi ficando mais difícil, apesar de muito prazeroso (sentir o bebê se mexer dentro de vc não tem preço. Mesmo!).

Durante toda a gravidez, minha maior preocupação era me preparar pro parto. Muito antes de engravidar, eu já tinha descoberto o que era parto natural, e tinha certeza de que era isso que eu queria pra mim e pra minha filha, sabendo que era o melhor pra nós duas. Passei metade da gravidez procurando uma equipe médica que me apoiasse nessa idéia. Por intermédio de uma amiga, conheci o Samaúma, e comecei a freqüentar as reuniões semanais. O Gu ia comigo a cada 15 dias, pelo menos. Lá, me aprofundei no assunto, conheci mulheres maravilhosas, empoderadas, e tirei todas as minhas dúvidas, e sanei minhas angústias, meus medos do tipo “e se isso der errado? E se o bebê demorar pra nascer? E se ela ficar muito tempo no canal de parto?”. Lá, conheci minha obstetra humanizada, uma médica jovem, muito esclarecida, carinhosa, e muito, muito segura do que falava e no que fazia. Abandonei meu GO de anos, cesarista, pra ficar com ela, pois sabia que era minha única verdadeira chance de ter um parto natural hospitalar em Campinas. E tinha certeza de que estaríamos em boas mãos.

Com o passar do tempo, as angústias antigas deram lugar a “e se eu não entrar em trabalho de parto? E se ela continuar pélvica ou transversa? E se eu tiver que fazer cesárea??”. Tinha verdadeiro pavor em pensar na ideia de cesárea. Quando eu estava com 37 semanas, quis fazer um ultrassom pra ver se tudo estava bem. A minha médica me desencorajava, pois dizia que naquela altura era muito comum o ultrassom dar “falsos alarmes” pra coisas do tipo cordão enrolado no pescoço, pouco líquido amniótico, muito líquido amniótico, bebê sentado, etc etc etc. Mas eu achava que nada daquilo me abalaria, pois naquela altura eu já sabia que nada disso seria motivo pra real preocupação. Ledo engano. Ao ouvir da médica do ultrassom “que pena... ela está transversa. Vc queria parto normal? Ihhhh... vai ficar pra próxima. Nessa altura os bebês não mudam mais de posição.”, entrei em pânico. Chorei copiosamente todo o caminho de volta pra casa, vendo meu sonho de parto natural ir por água abaixo. Meu marido tentava em vão me consolar. Naquele momento vi o quanto o parto normal era realmente importante pra mim, e fiquei até preocupada na decepção que eu sofreria se tivesse que ser cesárea. Me lembro de me sentir culpada por não estar feliz pelo simples fato da minha filha ser saudável, por estar tão triste só pq ela não estava virada de cabeça pra baixo.

Mas, contrariando a previsão pessimista da médica do ultrassom, e já demonstrando sua personalidade forte e agitada, minha filha ainda virou e desvirou inúmeras vezes dentro da minha barriga nas duas semanas seguintes. Como ela era espoleta!

Não fiz mais nenhum desses ultrassons técnicos até ela nascer, só acompanhava semanalmente pelo ultrassom mais simples da sala de consulta da minha médica. Lá a gente via se o coraçãozinho estava batendo normalmente, víamos a posição dela, e se tudo mais parecia bem lá dentro. A dra. M. sempre me passou muita confiança de que tudo ia muito bem. E que felicidade ver, com 39 semanas, que ela estava cefálica como deveria ser!

O Início do Trabalho de Parto

40 semanas e nada da Maria Eduarda querer vir ao mundo. Nem sei quantos telefonemas, torpedos e emails eu já estava recebendo por dia nessa altura do campeonato, sempre com a mesma pergunta: "nasceu?". Já estava ficando super cansada disso. E cansada de estar grávida. Barrigão pesando demais, falta de ar pra comer, não tinha posição boa pra dormir, e estava mesmo muito ansiosa por ver o rostinho da minha filha. Tudo o que eu queria era que aquele bebê saísse do seu mundinho confortável pra vir ficar comigo aqui do lado de fora. Nunca quis tanto na vida sentir a dor de uma contração!!

40 semanas + 1 dia. Fui na consulta com minha GO. Ela me perguntava se eu tinha certeza de que queria o exame de toque (já que não é necessário, é só pra “curar” a aflição da gestante, ou matar sua curiosidade), mas é claro que eu queria! Curiosidade sempre foi minha parceira. Nenhum progresso desde a semana anterior, nada que indicasse que a data estava próxima. E a dra. M. me dizia pra ficar tranqüila, não ficar decepcionada, pois "não dá pra prever muito... já tive paciente que não tinha nenhum sinal e no dia seguinte entrou em trabalho de parto. Caminhe bastante, isso pode te ajudar.".

E assim eu fiz. Estava decidida a ajudar meu trabalho de parto a começar, mesmo sabendo que isso não dependia nadinha da minha vontade! Mesmo ainda sendo início de novembro, estava um calor infernal, e resolvi que o melhor lugar pra caminhar seria no shopping (!) por causa do ar condicionado. Botei uma roupa confortável, tênis, e lá fui eu caminhar no shopping. Parecia uma louca andando com aquela barrigona de 9 meses pelos corredores do shopping, empenhada na minha missão. Não pretendia parar até sentir uma contração! Ficava me perguntando se aquela gente toda teria qualquer noção do que estava se passando comigo. Por incrível que pareça, depois de 1 volta completa comecei a sentir um peso enorme no pé da barriga. Sim, estava tendo uma contração. Mas, mais do que isso, não era uma contração como outra qualquer de Braxton Hicks que eu sentira até então. Essa era diferente. Era mais intensa, e meio doloridinha. Fiquei feliz e animada. Dei mais uma volta, andando rápido, mesmo com o desconforto que sentia na parte baixa da barriga. Eu sabia que ainda eram contrações de BH, mas percebi que elas estavam ficando ritmadas, vindo a cada 15 minutos. Me dei por satisfeita e fui pra casa, já era fim de tarde. A noite caiu, e as contrações continuavam vindo a cada 20 minutos, porém indolores. E elas continuaram vindo e vindo por muitas horas, só parando no dia seguinte, quando minha filha finalmente veio para os meus braços.

O Grande Dia

Fui me deitar às 23hs, uma hora antes do horário que eu costumava me deitar, pois algo dentro de mim me dizia que eu precisaria descansar e poupar energia para o que estava por vir. Comentei com meu marido que as contrações de BH estavam ritmadas, mas não quis deixa-lo ansioso e guardei pra mim o pensamento de que naquela noite eu entraria em trabalho de parto.

1 hora da manhã. Acordei ao me virar de lado na cama, sentindo uma contração totalmente diferente de todas as outras. Essa realmente doía. Muito pouco, é claro, mas era uma sensação totalmente diferente de tudo o que eu já tinha sentido até então. Me lembrei das dezenas de relatos de parto que já tinha lido, e do comentário enfático da minha médica de que “você saberá quando a hora chegar, ninguém confunde uma contração real”. Aquilo certamente era uma contração real. Mas pensei comigo se aquilo iria engrenar mesmo, ou se seriam apenas pródromos.

Não senti medo como achei que poderia sentir ao ver que meu trabalho de parto estava de fato se iniciando. Pelo contrário, fiquei muito animada, ansiosa, feliz, esperando pra ver se vinha outra daquelas doloridas. Levantei pra ir ao banheiro fazer xixi. E outra contração dolorida me pegou ao voltar pra cama. Fiquei ali quietinha, olhando pro relógio pra ver depois de quanto tempo vinha outra. 10 minutos e outra. Mais 10 minutos e mais outra. “Gu, amor... acho que agora vai.” Ele, totalmente ensonado, não deu muita bola pro meu achismo. Só me disse, carinhosamente, que se eu precisasse de alguma coisa era pra acorda-lo. Ao contrário da maioria dos maridos pouco informados, ele, que me acompanhara a gravidez toda nas reuniões do grupo de gestantes e se informara tanto quanto eu, sabia que nenhum bebê nascia de uma hora pra outra e que teríamos muito tempo até ir pro hospital a partir do momento em que tudo começasse.

Naquela hora me lembrei do que a L., minha doula, tinha me falado no nosso último encontro: “quando você achar que o trabalho de parto está começando, pare tudo o que estiver fazendo e vá dormir. Você precisará de toda a sua energia para o que está por vir.”. Juro que tentei voltar a dormir! Só que nessa altura as contrações já incomodavam a ponto de me acordar quando chegavam. E como vinham a cada 10 ou 12 minutos, não consegui mais dormir. Fui pra sala. Mandei um torpedo pra dra. M. (que naquela madrugada estava de plantão), contando o que estava acontecendo e dizendo que eu achava que poderia estar em trabalho de parto. Duas horas se passaram, e tudo continuava igual. Não sei exatamente quando foi que as contrações começaram a ficar mais próximas, mas me lembro que ainda era madrugada. 5 em 5 minutos, e um pouco mais doloridas. Acordei meu marido umas 7hs da manhã e disse a ele que não fosse trabalhar, pois eu tinha certeza de que estava em trabalho de parto e que nossa filha nasceria naquele dia. Tomamos café da manhã, eu comia entre as contrações pois nessa altura elas já doíam o suficiente pra me fazer parar tudo o que estivesse fazendo até que elas passassem. Liguei pra M., contei como eu estava e ela me disse que passaria em casa logo após sair do hospital pra me ver. Liguei também pra minha doula, e fiquei sabendo que ela havia passado a noite com outra grávida que estava num falso trabalho de parto. A L. me deu algumas instruções, e disse que iria pra casa descansar um pouco antes de vir para minha casa.

Eu continuava contando o tempo entre as contrações e vi que elas estavam ficando cada vez mais próximas. 3 ou 4 minutos. Mais uma vez lembrei das palavras da doce L.: “quando achar que está em trabalho de parto, tome um banho. Se as contrações não pararem, aí sim, vc está mesmo em TP.”. Fui pro chuveiro. Meu marido me ajudava a contar o tempo entre as contrações, e vimos que elas não estavam espaçando. Comecei a sentir bastante dor na lombar, e pedia pro Gu fazer massagem ali pra me ajudar – e como ajudava!!! Eu não podia mais viver sem aquela massagem!

Saí do chuveiro, avisei a L. e a M. que o banho não tinha espaçado as contrações e que eu continuava em TP. Resolvi terminar de arrumar as malas para o hospital, pois sabia que logo as coisas ficariam mais intensas e eu não teria mais cabeça e energia pra fazer mala nenhuma quando entrasse na famosa “Partolândia”.

9hs, mais ou menos, minha médica chegou em casa. Ufa! Que coisa boa, que aconchego eu senti ao vê-la ali! Ela foi muito carinhosa, pediu se eu gostaria de um exame de toque pra saber com quanto eu estava de dilatação. Eu estava tão ansiosa, tão animada, e queria sim. Ela fez e me perguntou com quantos cm eu achava que estava. “Uns 4?”. “Sim, de 3 pra 4!”. Descemos pra caminhar um pouco lá embaixo no prédio, pois ela achou que me faria bem. Nessa altura eu já não conseguia mais caminhar quando a contração vinha, precisava parar e inclinar o corpo pra frente enquanto meu marido fazia massagem na lombar. “Cibele, que coisa boa! Suas contrações estão muito boas, você está evoluindo muito bem!”. A M. me incentivava muito, me animou e motivou durante todo o trabalho de parto. Me lembro que tiramos algumas fotos no parquinho do condomínio, tentando descontrair quando vinham as dores. Me lembro de pensar comigo o quanto será que aquilo poderia ainda piorar, pois as dores já estavam bem intensas e eu sabia que teria ainda um longo caminho pela frente. Falei novamente com a minha doula nesse meio tempo, e ela disse que estava enviando outra doula pra ficar comigo por hora, a fofíssima N., e que ela viria pra minha casa até a hora do almoço.

Nessa altura eu já queria muito uma doula comigo, pois achava que precisaria de ajuda, apoio psicológico, pra agüentar as próximas horas de dor. Logo a N. chegou. Subi de volta pra casa, minha médica precisava ir embora e disse que quando eu achasse que era a hora, pra ligar pra ela e ir para o hospital, e que ela me esperaria lá. Durante a gravidez, conversamos muito sobre meu plano de parto, e ela sabia que eu queria (e ela também recomendava) esperar o máximo possível antes de ir para o hospital, pois eu não queria tomar anestesia. Eu queria um parto totalmente natural, sem intervenções. Queria sentir tudo, estar consciente, e proporcionar o melhor pra minha filha.

Entrando na Partolândia

Depois que a Dra. M. foi embora, as coisas evoluíram rápido. 11hs e fui pro chuveiro, por indicação da doula. Meu marido e ela foram comigo pro meu minúsculo banheiro, e ficaram ali comigo. Eu já gritava bastante entre as contrações, pois aquele som grave que eu tentava emitir me ajudava a concentrar e suportar a dor, que já estava muito, muito intensa. A doula me dizia pra agüentar firme, pra lembrar que cada contração trazia minha filha pra mais perto de mim. Não sabia direito há quanto tempo estava no chuveiro, mas sentia que o trabalho de parto já estava diferente. “Não to agüentando mais, Gu, ta doendo muito, vamos pro hospital.” Lembro-me de ter dito que eu estava com medo de não agüentar o caminho de casa até o hospital no carro se a gente demorasse muito para partir, e resolvemos juntar toda a tralha o mais rápido possível e sair. Meu marido me perguntava o que mais tinha que pegar pra levar pro hospital, mas a voz dele estava ficando cada vez mais distante e eu não conseguia organizar os meus pensamentos. Eu estava entrando na partolândia. Me desligando das preocupações do mundo, entrando cada vez mais no interior do meu próprio ser, da minha parte animal, da fêmea prenha que precisava deixar seu corpo fazer sua parte para aquele nascimento acontecer. Alguém ligou pra M. e pra L., que disseram que já estavam indo pro hospital pra me encontrar.

O caminho pro hospital foi uma verdadeira tortura. Fui no banco de trás, a doula comigo, meu marido dirigindo. Ajoelhei no banco, de costas, e me agarrei no encosto de cabeça. A contração vinha, e eu gritava, soltava tudo o que tinha dentro de mim, e tentava fazer o som mais grave possível pois tinha lido que isso ajudaria a abrir meu colo do útero. A doula me encorajava, fazia massagem com suas mãos suaves no meu dorso, me pedia pra respirar e ter calma que logo estaríamos fora do carro novamente.

Inacreditavelmente justo naquele dia a Orosimbo Maia estava em obras. Pegamos um mega congestionamento e levamos o dobro do tempo pra chegar no hospital (40 minutos, num trajeto que leva 20). Eu estava desesperada de dor ali dentro, pois só ficando de pé que eu conseguia agüentar melhor. Meu marido tentava ganhar qualquer 2 metros que podia, cortava subindo a calçada, mas mesmo assim a gente ia devagar. A L. ligava “cadê vocês?” (depois fiquei sabendo que a Mari estava quase mandando um helicóptero me resgatar de tão aflita que já estava ficando, rsrsrs). Até que uma cena de filme, cômica, aconteceu. No cruzamento onde estavam as obras, um guarda de trânsito controlava quem passava e quem ficava pra próxima. Bem na nossa vez de passar, o guarda manda parar. Meu marido abre o vidro, e grita pro guarda “amigo, minha mulher está em trabalho de parto, me deixa passar” e eu faço a cara de dor mais doída que eu consigo até então! Rsrsrs!!! Essa cena vai ficar pra sempre. E lá fomos nós, finalmente em velocidade, rumo ao hospital.

Chegando no hospital, saí do carro amparada pela N. enquanto o Gu ia estacionar e cuidar da papelada (que já tinha sido adiantada pela minha médica que me esperava por lá). Me lembro de ver a M. e a L. no saguão do hospital, mas não vi mais nada do que estava em volta. Só conseguia ver, sentir, ouvir o essencial pro momento. De resto, só me concentrava em mim, na contração, no meu corpo. Que coisa boa ver a L. ali! Me lembro de abraça-la e acho até que chorei um pouco. Veio alguém do hospital tentar me sentar numa cadeira de rodas pra me levar até o quarto (“procedimento padrão”), mas pedi pra M. me livrar daquilo... eu não conseguia nem imaginar ter que me sentar novamente, após me livrar da tortura que tinha sido o carro. Ela disse gentilmente ao enfermeiro que eu não precisava de cadeira de rodas. Fui andando até o quarto, parando em cada contração, e gemendo e gritando como se só existisse eu no mundo. Não estava nem aí pros outros, pro que poderiam pensar, pro showzinho que eu devia estar dando aos olhos de alguns. Naquele momento só existia eu, meu marido, minhas doulas e minha médica no mundo. Mais ninguém. Sim, isso é a partolândia.

A Fase de Transição e a Anestesia

Ufa! Chegamos na sala de parto humanizado do hospital. Finalmente! Novo exame de toque, novamente “com quantos cm vc acha que vc está”, e dessa vez errei por um. Achava que estava com 8, mas estava nos 7 centímetros de dilatação. Eu já sabia que estava entrando na parte mais difícil do parto, a que eles chamam de transição. A M. me perguntou se eu queria que ela rompesse a bolsa, pois a bebê estava alta e isso poderia ajudar a bebê a descer e também acelerar o trabalho de parto. Eu achei uma boa idéia, mesmo sabendo que isso era uma intervenção, porque já estava ficando bem cansada das contrações. Como aquilo doeu!!! Me lembro de sentir aquele monte de água quentinha escorrendo de dentro de mim, e de pensar se tinha mecônio ou não na água (que seria um indício de sofrimento fetal), mas não quis perguntar pra não me desconcentrar, pra não ficar com medo e travar o processo do meu parto. E eu confiava que se tivesse algo errado, minha médica e doula saberiam o que fazer.


A L. sugeriu irmos pra banheira um pouco, pra eu tentar relaxar mais. Fui, o Gu sempre comigo, e nessa hora a L. sugeriu ficarmos só nós dois ali, curtindo nosso momento único. A banheira aliviou um pouco sim aquela sensação tão intensa que as contrações traziam. Mas as contrações não espaçaram, continuavam a cada 3 minutos e eu mal tinha tempo de recuperar as forças. Lembro que mal uma contração ia embora, eu já dizia pro Gu “lá vem outra”. E eu me sentia angustiada, pois sabia que viria novamente aquela dor que beirava o insuportável. “Gu, eu não vou agüentar, Gu...”. “Vai sim, amor, vc já agüentou até agora, já está agüentando!”. Quando a contração vinha eu não conseguia pensar, respirar, falar, só conseguia gemer e doer. Algum tempo depois, cheguei no meu limite. “Gu, não to mais agüentando. Quero anestesia.” Ele ainda me perguntou se eu tinha certeza e eu disse que sim, pra chamar a dra. M.. Ainda tentamos ir pro chuveiro, com água mais quente nas minhas costas, mas não aliviou nada. A M. resolveu me examinar uma vez mais, e me disse que eu já estava com 9 cm de dilatação, se eu tinha certeza de que queria anestesia naquele momento (ela sabia que meus planos eram de não tomar anestesia). Eu fui muito categórica e segura ao dizer que sim, que queria a anestesia pois tinha medo de não ter forças pra agüentar o expulsivo. E assim foi feito. Minha vontade foi respeitada, como em todo o trabalho de parto.

Não sei dizer o que foi mais difícil no meu trabalho de parto: se foi o caminho pro hospital (tendo que suportar as contrações dentro do carro) ou se foi ficar imóvel pra tomar a anestesia no meio de tantas contrações. Eu chorava de dor, de medo da anestesia, e pedi pra M. segurar minha mão (pois ali naquela salinha onde eu tomaria a anestesia não podia entrar meu marido, só os médicos). Me lembro do anestesista me dizendo pra agüentar firme, pois aquelas seriam as últimas contrações que eu sentiria. Dito e feito. Logo aquela dor começou a ir embora. E parei de sentir minhas pernas. Fiquei meio preocupada, pois tinha medo de não conseguir evoluir no expulsivo, mas naquele momento eu estava tão, tão feliz e aliviada por não sentir mais dor que nada mais parecia tão importante.

A Dilatação Total e o Expulsivo

Voltei pra sala de parto, e voltei a sorrir. Saí da partolândia, mas eu já sabia que tomar a anestesia teria esse efeito colateral. Estava feliz por conseguir respirar novamente, confesso que uma paz me invadiu naquele momento, e me senti grata por poder retomar as forças. Pude notar melhor as pessoas que estavam na sala naquele momento, enxergar detalhes que não tinha visto até então, cumprimentar a L. direitinho, e nesse momento me lembrei de pedir pra avisar minha mãe de que eu estava no hospital parindo. Não queria avisa-la muito cedo, pois tinha medo que ela ficasse nervosa demais me vendo em trabalho de parto (como geralmente acontece com as mães...).

Fiquei tão relaxada que conseguia rir, conversar, fazer piada, pensar novamente. Minhas pernas logo começaram a voltar um pouco ao normal, e eu ainda podia sentir as contrações apesar de não sentir mais dor. (Nesse momento preciso parar pra dizer que, apesar de não estar nos meus planos ter que tomar a anestesia, apesar de eu ter me preparado para não toma-la, não me senti frustrada por ter que pedir por ela. Sinto que foi uma conseqüência natural do processo que estava vivenciando. Eu cheguei realmente no meu limite, e agradeço a Deus por ter agüentado firme até ali, pois sabia que dada a evolução das coisas, dificilmente tomar analgesia naquela hora iria comprometer meu parto normal.)

A M. me disse que a bebê ainda estava alta, e que era pra eu começar a fazer força durante as contrações pra ajuda-la a descer. Eu já estava com dilatação praticamente total, mas tinha um rebordo de colo, porque a bebê estava alta.

Lembro-me de, por diversas vezes, pensar se a bebê não estaria de costas pras minhas costas (o “correto” é a posição costas com minha barriga), pois já tinha lido em vários relatos de parto que quando o bebê estava nessa posição as mulheres sentiam uma dor absurda na lombar – como era o meu caso. Mas não queria perguntar isso pra M., eu não queria nada que pudesse me assustar, amedrontar, fazer parar meu TP. Então esse pensamento vinha, e eu logo deixava ele ir embora. Estivesse como estivesse, ela ia nascer e disso eu tinha certeza. Não tinha medo de nada, só me preocupava em faze-la sair ali de dentro.

A M. ouvia o coraçãozinho, e dizia que tudo estava bem e que logo ela estaria nos meus braços. Me lembro de acariciar a barriga e pedir “vem pra mamãe, minha filha, vem!”.

Por sugestão da L., mudei de posição algumas vezes pra tentar ajuda-la a descer mais rápido. E de fato isso ajudou. Depois de algumas mudanças, novo toque da M., e a notícia de que ela estava descendo! Nesse momento, sentei novamente de cócoras na cama (que vira uma cadeira de cócoras, maravilhosa!), e comecei a sentir muita vontade de fazer força – os famosos puxos. É algo quase incontrolável, seu corpo todo pede pra vc fazer força. Falei isso pra M. e ela me disse pra fazer a força qdo os puxos viessem então. 3 horas já haviam se passado desde que atingi a dilatação total, e agora estava muito perto de te-la nos meus braços.

Depois de algumas forças, a M. falou pro Gu ir ali rapidinho. “Ta vendo aquilo ali? É o cabelinho dela. Quer ver, Cibele?”. Claro que eu queria!! Que emoção, meu Deus!! Nesse momento me lembro de ter chorado. Que emoção trazer minha filha ao mundo... e eu estava prestes a, finalmente, conhece-la. Decidi que ela nasceria logo, no que dependesse de mim. Que eu faria toda a força do mundo pra traze-la logo pra mim. Decisão muito estúpida, pois provavelmente por conta disso ganhei uma laceração no períneo, com direito a vários pontinhos que me incomodaram bastante nas semanas seguintes. Não consegui ser racional nessa hora e deixar apenas o bebê sair conforme seu próprio ritmo. Tive que apressar as coisas. De qualquer forma, ainda foi muito melhor do que ganhar uma episiotomia, certamente.

Nessa altura a anestesia já estava passando e eu podia sentir todo o expulsivo. Não sei dizer se senti 100%, provavelmente não, mas sentia sim aquela sensação de estar me abrindo toda, aquela super pressão nos ossos, e até que, numa força, senti um ardor. Falei isso pra M. e ela me disse que era o tal círculo de fogo. E eu continuava vendo minha filha pelo espelhinho, puxa, como ela era cabeluda! Via e fazia mais força ainda. Acho que depois disso ela nasceu com mais umas 2 forças somente. No total, foram apenas 10 minutos entre eu começar a fazer força ao sentir os puxos e ela nascer (só sei disso pq vi no vídeo do parto depois, pq naquele momento eu tinha perdido totalmente a noção do tempo). Estava tão concentrada em ajuda-la a sair que não me lembrei de tentar tocar a cabecinha dela com a minha mão antes dela sair completamente. Só sei que depois que a cabeça saiu, eu mal precisei fazer força alguma e o corpinho escorregou pra fora de mim. Pronto................... Ela havia conseguido! Eu havia conseguido! Nós duas, juntas, fizemos tudo o que tínhamos de fazer pra que Maria Eduarda viesse ao mundo. Após 16hs de trabalho de parto, às 17hs do dia 04/11/2009, nasceu Maria Eduarda, pesando 3,150 kgs e medindo 50 cm.

Bem Vinda, Minha Filha!

Uma sensação incrível de alívio e vitória me inundaram. Imediatamente a M. a colocou nos meus braços, ainda toda sujinha, meladinha e muito quentinha. E o mundo parou naquele momento. Eu não ouvia mais nada, não via mais nada ao meu redor, a não ser a carinha dela. Não dá pra descrever a emoção ao ver o rostinho da minha filha pela primeira vez. Não dá pra descrever o que a gente sente ao tocar, abraçar aquele corpinho que esteve se formando dentro de vc nos últimos 9 meses. É tornar concreto o que até então era, de certa forma, ainda abstrato. Foi a maior emoção da minha vida, não há dúvidas disso. Ela já saiu de mim chorando, aos berros, mas ao encostar na minha pele, foi se acalmando e se calando, e de olhos bem abertos fitou o mundo e a mamãe pela primeira vez. “Bem vinda, minha filha. Que Deus te abençoe e te ilumine por toda sua vida. Mamãe te ama muito! Bem vinda, minha filha!”. Meu marido diz que essa foi a cena mais marcante do parto todo pra ele. Enquanto ela ficava no meu colo, me olhando e me reconhecendo, o cordão umbilical foi parando de pulsar naturalmente, até que chegou a hora de corta-lo. M. chamou o Gustavo, que fazia questão de cortar. Não houve choro, não houve tapa no bumbum, não houve trauma algum pra ela. Ela simplesmente passou a respirar sozinha pelos seus pulmõezinhos e não precisava mais receber oxigênio pelo cordão, pela mamãe. A sala estava absolutamente silenciosa, num respeito profundo a um momento tão forte e ao mesmo tempo tão suave e sublime.

Depois disso a levaram de mim por alguns instantes (pra fazer as primeiras avaliações – e recebeu notas 9 e 10 no apgar), mas logo ela estava de volta comigo e pronta para mamar. Colocaram a bichinha no meu peito, ela tentou abocanhar uma, duas, três, na quarta ou quinta vez conseguiu. Mamou um pouquinho – e como sugava com força!! Esperei tanto por esse momento!

A placenta saiu, e eu nem percebi... Não sentia, não via, não ouvia nada que não fosse minha filha e meu marido. Aquele momento era só nosso. Ficamos ali um tempinho juntos os 3 ainda, nos reconhecendo agora como 3, e não mais somente 2.


Depois a levaram para limpar, aquecer, botar roupinha, enquanto eu era suturada pela laceração que tive no períneo. Eu estava tão cansada! E tão incrivelmente feliz e realizada por ter conseguido viver aquele rito de passagem que o parto representava pra mim, e por te-la finalmente em meus braços!

Meu marido acompanhou todo o restante do procedimento com ela, não deixamos dar vitamina K injetável, nem vacina, nem nada que pudesse ser traumático pra ela nesse momento que já é difícil – o nascimento, que é a primeira separação da mamãe.

Pra mim nunca fez sentido imaginar minha filha saindo do meu corpo e já sendo levada e carregada pela primeira vez na vida por alguém que não fosse eu, sendo submetida a mil procedimentos invasivos, por uma equipe fria e despreparada pra lidar com aquele momento tão importante pra ela. Fizemos questão de que nossa filha viesse ao mundo da maneira mais humana, tranqüila e respeitosa o possível. Queria que ela, desde o nascimento, pudesse sentir que nós estaríamos sempre ali pra ela, por ela, cuidando, amando. Foi lindo senti-la escorregando de dentro de mim diretamente para os meus braços! Iniciamos ali o vínculo de amor mais forte que existe. E tenho certeza de que passar por todo esse ritual do parto contribuiu para a criação imediata desse vínculo. Afinal, o parto é o desfecho natural para um processo que começou 9 meses atrás com a gravidez, e o início de uma relação tão complexa e maravilhosa de mãe e filho.

Agradeço imensamente a Deus, por ter me feito mulher e poder viver essa experiência única e tão maravilhosa.

Agradeço à equipe maravilhosa, M., L., N., por ter me possibilitado vivenciar meu parto de forma tão sublime como eu sempre tinha sonhado, e por ter me ajudado a trazer minha filha ao mundo de maneira tão suave e respeitosa, como eu queria.

Agradeço a todo o grupo Samaúma, por ter colocado tanta luz e esclarecimento nesse meu caminho em busca do parto humanizado.

Agradeço ao meu marido, que foi companheiro tão maravilhoso durante toda a jornada da gravidez, e tão essencial e presente durante todo o trabalho de parto! Eu não teria conseguido sem vc, meu amor!

E agradeço à minha filha, por trabalhar junto comigo nessa dança tão linda que é o nascimento, por me ensinar todos os dias a ser uma MÃE de verdade, e por me proporcionar sentir o maior amor que existe nesse mundo! Te amo, filha!